sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Voz-mãe

Que seja na voz
o meio que eu te faça presença
Só na voz
que eu recordo do teu jeito, teu rosto, teu cheiro
E na minha voz que eu te passe segurança,
carinho, amor, gratidão e tudo aquilo. Tudo.

Na voz que você possa esquecer da saudade
A saudade que mata, que fere e arde
E que na voz você possa sentir-me
Que eu te faça viva, que teu te passe o amor
Que eu te dê a certeza
De que nada vai mudar
Nada vai diminuir e nem afastar

Que seja pela voz, também, que eu te peça silêncio
E que no silêncio, eu sinta sua respiração
E ao respirar, que eu sinta seu colo
Que eu sinta seu abraço
Seu abraço único. De proteção
De segurança, de mãe para filha
E de filha pra mãe.

Seja na tua voz-mãe
ou no seu silêncio-mãe
que nos acalme, que nos une e mais nos proteja
nos proteja da saudade-mãe do mal-mãe e do mundo-mãe

Pra que quando eu estiver com você
Seja eu e você
Só eu e você
E só isso
E mais nada.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Pra não perder o costume.

Escrever só pra não perder o costume. Só pra não esquecer que eu ainda tenho essa humilde habilidade de colocar palavras em um papel. Uma coisa que todos sabem fazer, mas poucos fazem, poucos ainda fazem bem. Mas o que me importa escrever bem? Nem buscar sentido nas palavras eu busco. Nem pensar pra escrever eu penso. Ou penso? Ou sinto? Mas o que importa? Nada importa. Importa é que pelo menos essas palavras eu ainda tenho comigo. Pelo menos essa humilde habilidade de escrever a vida não me levou embora. Porque por mais que nada fizesse sentido, eu escrevia. Por mais que nada valesse a pena, eu escrevia. E por mais que ninguém lesse, eu também escrevia. E por que eu escrevia? Só pra não perder o costume. Só pra deixar registrado as noites de insônia, de angústia e tristeza. Ou então aquelas de alegria, de risadas e carinhos. Ou então pra ler algum dia e dar risadas, ou então chorar... Ou então pensar: "nossa, eu escrevi mesmo isso?" E lembrar de quem um dia eu cheguei a ser. E o tempo não me deixou continuar ser. A vida exigiu que eu fosse mais. E talvez até tenha sido. Mas de um certo ponto. De outro, nem tanto. Porque talvez a cada dia que passasse eu fosse menos. Menos viva. Menos paciente. Menos sorridente. A vida me ensinava. E eu aprendia sim. Eu aprendia coisas sobre a realidade. E a realidade sim, mata. Mas ninguém me disse que eu era obrigada a vivê-la. Eu poderia sonhar, mesmo que fosse só nos meus sonhos. Eu poderia viver de sonhos mesmo que eles não se realizassem e minha vida, no final das coisas, seria como um conto de fadas. Irreal. Mas meus sonhos, talvez, eram um dos poucos motivos que me fizessem querer viver mais. Viver melhor. Sorrir. Pular. Mesmo que tudo fosse uma mentira.