sábado, 19 de outubro de 2013

Liberdade

Liberdade que nunca terei
Que sempre estarei presa a poesia
Dependente dessa dor que é escrever
Sufocada por sempre precisar de alguém
Um alguém que não existe
Mas que ainda procuro...
Seja nas palavras sem sentido
Que pensam dizer alguma coisa
Seja no silêncio ou na solidão
Ou até nesse meu poema-desabafo
Pudera eu saber o que é liberdade
Pudera eu saber escrever
Ou fazer poesia...
Pudera eu entender a arte
Ou saber amar
Ou encontrar a tal liberdade...

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Estação Paulista, 18 de Outubro de 2013

Eu a vi, a alguns passos de distância, com uma menina e logo fui ajudar. Não só porque era o meu trabalho, mas naquela ocasião, qualquer cidadão ajudaria. Perguntei qual o destino e a menina me respondeu: Av. Angélica. Eu a vi, com a coluna inclinada para a frente e uma bengala, andando tão devagar... Eu pensei na distância que ela tinha percorrido até ali, pensei até onde ela queria chegar... “Ela não vai conseguir”.  Ofereceram-lhe cadeira de rodas, mas ela recusou. E agora éramos só nós duas naquela caminhada. Ela logo agarrou minha mão e fomos andando, devagar... Não sei dizer quantos anos aparentava ter, sei que seus olhos eram castanhos esverdeados e tinham certo brilho, talvez porque estivessem um pouco lacrimejados. Seu sorriso era calmo e sincero. Veio me dizendo que aquela estação era enorme, com um tom de surpresa, disse que no tempo dela não era assim... Eu concordava e sorria... Concentrada em seus passos, curtos, e que às vezes se descoordenavam. Eu sabia que todos que nos viam passar na estação me olhavam com aquele olhar de pena misturado com um “que bonitinho ela ajudando a senhora”, mas daquela vez, aquilo não estava me incomodando. Ela me perguntou: “Sabe quantos anos eu tenho?” Eu disse que não... e ela disse: “Tenho 91 mas com cabeça de 42”. E ela parecia mesmo ser muito esperta para aquela idade. Minha avó tem 82 e desconfio que ela já não saiba quem sou eu. Não sei dizer o que ela tinha de especial, mas tinha... Ela me disse que era andarilha quando jovem (me identifiquei um pouco), contou que pegava três conduções para ir ao trabalho... E eu ia ouvindo... E às vezes me perdia no que ela falava, me perdia porque estava sentindo algo estranho, mas bom... Pegamos o elevador (cheio) e ela encostou a cabeça no meu peito. Perguntei se estava tudo bem, se ela queria se sentar ou tomar uma água. E ela sorrindo disse que não e continuamos andando devagar e ela falando, falando... Ela, às vezes ficava sem fôlego, mas continuava falando. Eu insistia em perguntar se estava tudo bem e ela só dizia que estava um pouco cansada. Me contou que estava indo tirar os pinos da coluna porque ela tinha caído sentada... Me disse isso rindo... E eu, às vezes olhava aqueles olhos alegres que sorriam. Eu não sabia direito o que estava acontecendo, mas logo chegaríamos na saída da estação. Perguntei se ela sabia onde era a avenida, ela me explicou o lugar exato onde era e soltei um comentário idiota: “tá sabendo mais que eu”. E ela sorriu de novo... Aquele sorriso que já estava se tornando o único, o mais sincero e calmo que eu já tinha visto. Antes de me despedir, ela que tantas vezes segurava a minha mão com mais ou menos força, aquela hora era minha vez de apertá-la e com a minha força. Perguntei se ela queria que eu pedisse para alguém que estivesse passando na rua para acompanha-la... Ela disse que minha ajuda já estava de bom tamanho. Perguntei seu nome. Ela disse: Elza. E o seu? Disse o meu e ela só entendeu uma parte, mas não corrigi. Eu, então apertei sua mão, sem saber muito o que estava fazendo, e disse: Elza... Nunca vou te esquecer. E aqueles olhos que já eram lacrimejados e brilhantes, brilharam mais ainda e se encheram de lágrimas (que não caíram...) e eu disse: “quem me dera um dia ser forte igual a você”. Aqueles olhos brilhantes sorriram... Nos abraçamos, dei meia volta e voltei... Ainda com os passos dela... Continuei um pouco a olhá-la, ainda sem saber o que estava acontecendo... Eu, que tantas e tantas vezes pensava em falar, mas na hora nunca tinha coragem. Naquela hora tinha sido tão fácil, talvez eu nem tenha pensado... E eu, voltando, tentando entender uma coisa que eu não sabia o que era... Eu, voltando e me sentindo emocionada, talvez... Eu voltando, deixei escorrer as lágrimas que aqueles olhos brilhantes e lacrimejados não deixaram. Não sei porque não vou esquecê-la, também não sei se aguentaria chegar aos 91 anos com aquela alegria calma... Não sei nem ao certo o que aconteceu, o que eu senti... Sei que minha única vontade depois de conhece-la, por aqueles poucos minutos, era de escrever...