sábado, 24 de janeiro de 2015

Tempestade

Trovejava e meu desejo saltava
junto às tuas mãos frias.
Trovejava e meu peito pulava,
só, pelos dias a morrer.

Meu medo a cada ruído
Cheirava tua espera.
E tu, a arder no alto
Clamavas meu nome, roucamente.

Trovejava e meus dedos,
a sonhar-te luz, em vão,
Temiam, só, pálidos
no escuro do silêncio, a dormir.

Eu trovejava e te engolia.
Antigo crime meu, asco.
Depois chovi e te cuspi,
Chuva leve, a semear rosas.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Palavra-Erro

Três pessoas, sete palavras.
Aquele transtorno de reproduzir
só palavras.
Só o que sei é falar, mas não estimo.

Cansa-me tuas palavras gastas.
Teu vício de envelhecer-me a vida.
Cansa-me todos teus caprichos,
Essa tua crença banal corroendo minh'ânsia.

Tal pessoa, tal palavra...
Incorporados no mesmo erro.
Fracassam-se nos tempos,
Até deleitam-se no próprio engano.

Assim vão vivendo, meio ao desastre.
Meio ao nada.
Assim criam falsos-sonhos,
meio ao desespero.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Procuro-me outro

Procuro-me outro para falar.
Mas só a mim tenho.
Canso-me do eu, do me, do mim.
Mas a outro não tenho.

Canso de só a mim ver.
As velhas mãos cansadas,
Os mesmos passos perdidos
Canso de só a mim sentir.

Te olho a boca
Ai se eu pudesse ser,
ao menos tuas palavras
Teus lábios, miseráveis.

Tua voz a mim toca,
Ai, se eu pudesse ser,
Tua fala suja,
Ardendo-me a pele.

Pudera ser, mas não sou.
Aqui estou. Possuo a mim.
E a mim não suporto.
A mim não habito.

Procuro-me outro para falar,
mas só a mim tenho.
E a mim não existo.