domingo, 11 de outubro de 2015

Copo desprezado

Cada gole era um gosto de sombra,
Um lugar deserto,
Um navegar de ilusões sombrias
sob um copo vago de paixões

Um copo qualquer de desespero
com gosto seco de ilusão fria,
descendo sob meus devaneios acesos.
Um novo gole de saudade.

A vontade
de quebrar o copo
é tão intensa quanto
a de admirá-lo.

E eu ainda sofro,
pelos gostos das sombras,
pelas saudades sombrias, até
a urgência dos goles me afogar.

Até teu segredo me cegar,
Meu sossego m'abandonar, até
que minha respiração vai se despedaçando...

E eu finalmente adormeço.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Você é linda.
– Eu? Não sou.
Você é linda.
– Obrigada.
Você é linda.
– Eu sou.
Você é linda.
– Sou?
Você é linda.
– Você é linda.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Quando dormir e acordar
tornam-se desafios frequentes,
é porque cruzei a linha do pensar.
E de tanto inquietar-me. Perdi-me
nos raros momentos que te senti pulsar.

Tenho sono, mas também tenho angústia
Incapaz escolha, infeliz destino
esse de não-estar calado.
Não sei onde estou, mas continuo...

Entre o despertar e o adormecer,
parece que em mim vivo, e em ti me desfaço.
Em ti, vou perdendo meu mover-me
e me resto, num antigo porão sem luzes.

Amanhece e as horas escondem-me.
Quando o real e o imaginário
caminham juntos ao meu encontro,
Quando o Tempo me esquece, perdido...

Vago só, de passagem, num sonho arrependido.

sábado, 24 de janeiro de 2015

Tempestade

Trovejava e meu desejo saltava
junto às tuas mãos frias.
Trovejava e meu peito pulava,
só, pelos dias a morrer.

Meu medo a cada ruído
Cheirava tua espera.
E tu, a arder no alto
Clamavas meu nome, roucamente.

Trovejava e meus dedos,
a sonhar-te luz, em vão,
Temiam, só, pálidos
no escuro do silêncio, a dormir.

Eu trovejava e te engolia.
Antigo crime meu, asco.
Depois chovi e te cuspi,
Chuva leve, a semear rosas.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Palavra-Erro

Três pessoas, sete palavras.
Aquele transtorno de reproduzir
só palavras.
Só o que sei é falar, mas não estimo.

Cansa-me tuas palavras gastas.
Teu vício de envelhecer-me a vida.
Cansa-me todos teus caprichos,
Essa tua crença banal corroendo minh'ânsia.

Tal pessoa, tal palavra...
Incorporados no mesmo erro.
Fracassam-se nos tempos,
Até deleitam-se no próprio engano.

Assim vão vivendo, meio ao desastre.
Meio ao nada.
Assim criam falsos-sonhos,
meio ao desespero.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Procuro-me outro

Procuro-me outro para falar.
Mas só a mim tenho.
Canso-me do eu, do me, do mim.
Mas a outro não tenho.

Canso de só a mim ver.
As velhas mãos cansadas,
Os mesmos passos perdidos
Canso de só a mim sentir.

Te olho a boca
Ai se eu pudesse ser,
ao menos tuas palavras
Teus lábios, miseráveis.

Tua voz a mim toca,
Ai, se eu pudesse ser,
Tua fala suja,
Ardendo-me a pele.

Pudera ser, mas não sou.
Aqui estou. Possuo a mim.
E a mim não suporto.
A mim não habito.

Procuro-me outro para falar,
mas só a mim tenho.
E a mim não existo.