segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Os teus dias
passam e costuram
um palco
que me condena.

Você,
Sentada na sala de estar,
bebendo café,
numa xícara
que me condena.

As tuas lágrimas,
e o meu sangue
escorrem
para a minha única prisão.

Meu corpo,
aprisionado,
chora.
Querendo
o teu corpo,
que é livre.

E sofro
pela tua voz que
calmamente
me condena.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Navegar-se

Abriu a gaveta e mergulhou
no seu mar de lembranças pesadas.
Tempos passados
presentes, agora,
naquele espelho
desconfortável.

As ondas brindavam
cada sorriso em lágrimas,
cada pedaço dela
Esquecidos nas gotas
invisíveis
do mar
do chorar.

Era um nado
engasgado
Águas tão estrangeiras
Vazias dela mesma.
Águas frias
de carinhos perdidos.

Os olhos escorregavam
e ela ouvia o barulho do mar.
O peso da vida agravou
A gaveta fechou.
E ela ficou a ouvir

o barulho
do (a)mar.

domingo, 11 de outubro de 2015

Copo desprezado

Cada gole era um gosto de sombra,
Um lugar deserto,
Um navegar de ilusões sombrias
sob um copo vago de paixões

Um copo qualquer de desespero
com gosto seco de ilusão fria,
descendo sob meus devaneios acesos.
Um novo gole de saudade.

A vontade
de quebrar o copo
é tão intensa quanto
a de admirá-lo.

E eu ainda sofro,
pelos gostos das sombras,
pelas saudades sombrias, até
a urgência dos goles me afogar.

Até teu segredo me cegar,
Meu sossego m'abandonar, até
que minha respiração vai se despedaçando...

E eu finalmente adormeço.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Você é linda.
– Eu? Não sou.
Você é linda.
– Obrigada.
Você é linda.
– Eu sou.
Você é linda.
– Sou?
Você é linda.
– Você é linda.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Quando dormir e acordar
tornam-se desafios frequentes,
é porque cruzei a linha do pensar.
E de tanto inquietar-me. Perdi-me
nos raros momentos que te senti pulsar.

Tenho sono, mas também tenho angústia
Incapaz escolha, infeliz destino
esse de não-estar calado.
Não sei onde estou, mas continuo...

Entre o despertar e o adormecer,
parece que em mim vivo, e em ti me desfaço.
Em ti, vou perdendo meu mover-me
e me resto, num antigo porão sem luzes.

Amanhece e as horas escondem-me.
Quando o real e o imaginário
caminham juntos ao meu encontro,
Quando o Tempo me esquece, perdido...

Vago só, de passagem, num sonho arrependido.

sábado, 24 de janeiro de 2015

Tempestade

Trovejava e meu desejo saltava
junto às tuas mãos frias.
Trovejava e meu peito pulava,
só, pelos dias a morrer.

Meu medo a cada ruído
Cheirava tua espera.
E tu, a arder no alto
Clamavas meu nome, roucamente.

Trovejava e meus dedos,
a sonhar-te luz, em vão,
Temiam, só, pálidos
no escuro do silêncio, a dormir.

Eu trovejava e te engolia.
Antigo crime meu, asco.
Depois chovi e te cuspi,
Chuva leve, a semear rosas.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Palavra-Erro

Três pessoas, sete palavras.
Aquele transtorno de reproduzir
só palavras.
Só o que sei é falar, mas não estimo.

Cansa-me tuas palavras gastas.
Teu vício de envelhecer-me a vida.
Cansa-me todos teus caprichos,
Essa tua crença banal corroendo minh'ânsia.

Tal pessoa, tal palavra...
Incorporados no mesmo erro.
Fracassam-se nos tempos,
Até deleitam-se no próprio engano.

Assim vão vivendo, meio ao desastre.
Meio ao nada.
Assim criam falsos-sonhos,
meio ao desespero.