quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

O silêncio (me) ama

O silêncio me ama
Isto me basta.
Me faz
(Me) Vive.

Encontro-me na ausência do som
E sou a falta dele.
A incompletude me aprecia
enquanto sigo chorando
na minha (não) vida.

Encontro-me nas ondas do mar
Que não se encontram,
Não se confiam.

Sou a insônia roxa
O incômodo do amor
do meu silêncio.
Sou a última dor.

O silêncio me cobra
me cobre
de pena.
O silêncio me ama.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Três saudades

Três fotos tuas
Três desejos.

Domingos doentes
De vazio.

Três músicas tocam
Três erros.

Sono.
Solidão sobra.

Três dores

Teu cheiro
Teu gosto
Encanto.

Três palavras:
Você se foi.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Poetas

Tenho Pessoa em mim
Assim como tenho Cesário,
Tenho Pessanha,
Mallarmé, Laforgue, Verlaine
e Rimbaud.

Posso dizer "Je suis un autre"
ou "Não quero ser nada"
Posso querer embriagar-me
com vinho, poesia ou virtude.
(merci, Baudelaire)

Posso registrar as imagens
que (não) passam pela retina
Posso ser o pilar da ponte de tédio
de Sá-Carneiro

Posso ser gauche na vida
Esperar o dia em que
eu só diga poesia
Posso procurar os poetas da América

Posso esperar resposta da vida
(Que saudade, Orides)
Posso esperar o amor durar a vida

Posso ter todos os poetas
e pensar ser poeta
Posso querer ser poesia
Ou ser só eu.

Ponta-Pronta

A ponta aponta meu ser
num falso papel sem sentido
Paro. Me perco de novo
De novo, (me) perco minha perda

A ponta me espera e me encontra
intervalo sem ver meu viver
Paro. Penso e reparo
meu engano de tentar (me) ser

Sinto-me que não (me) sou
Sinto-me tanto que não (me) sei

A ponta desenha meus dizeres
Palavras desenham meus quereres
Escondo-me e (me) tento esconder
Me calo. Me espalho sem ser.

A ponta pronta.
Mania pronta, dúvida pronta
Eu-ponta.
Vida em conta e não conta.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Corro tanto
Esqueço todo o caminho
Sigo a direção
E (me) esqueço. 

Mas quando me perco
Quando não sigo
Não tenho direção
Quando (me) paro...

Te lembro cada detalhe
Cada estúpido detalhe
Te lembro cada palavra
E (me) sinto. 

Abro a gaveta
Que te guardei
E me enterro. 
Te olho
e (me) mato. 

Tu me quebra
Sufoca
E eu abro a gaveta
Para te chorar. 

Vou (me) Lembrando
(Te) lembrando
Até que tu me cala. 

Tu me cala
E eu me fecho a ti
Na mesma gaveta.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

A distância pousou
de leve sobre meu ser
Vou sendo, esquecendo
Desejando...
Uma última culpa.

Meu sorriso jogado na parede
Eu que não tive passado
Nem retrato
Nem apelo.

De resto,
uma infância fincada num
papel amassado

Agora vivo
Sobre um papel amassado
Implorando palavras
que me escapam
me encapam
e me quebram.

Palavras
que quebram-me ao meio
separo-me nas páginas
Que me restaram,
Num livro sem segredo.

Páginas
rasgadas
engadas, 
afogadas

Numa lágrima atrasada.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Prisão Cega

Páginas e páginas de nada
Certificados de arrependimentos
Inscrições de perda de tempo
Congressos sobre fingir

Escondo-me nessas roupas sujas
E sou o que me obrigaram a ser

Uso palavras mandadas
Que compram minha saúde

Uso palavras medidas
E passos contados num sapato apertado

E dizem ainda me ver dentro dessa
prisão cega.

Minha recompensa, o cansaço
Meu ser comprado pelo ter
Meus sonhos vendidos a migalhas
E ainda dizem que me falta
um carro na garagem.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Distância Fresca

Olha você, ali,
deitada no sofá,
e eu aqui, na mesa,
com tanta saudade de você!

Seus olhos fechados,
sono calmo, imóvel,
e eu, aqui, inquieta,
com tanta saudade de você!

Saíamos para um café,
você lia o cardápio,
eu te olhava e sentia,
tanta saudade de você!

Aqui, lado a lado,
Depois de tantos anos
Depois de tanta saudade
Como pude não esquecer você?

Você me beijava e me cantava
Sonhos de amores infelizes
Eu, quieta, encolhida,
com tanta saudade de você!

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Mais nada, mesmo nada.

Todos os dias penso em parar de morrer
Penso em desistir de novo,
Ou tentar uma carreira de sucesso,
Todos os dias me arrependo d'onde estou

Sinto, todos os dias, a morte mais próxima ao anoitecer
Depois das luzes cinzentas dos meus dias,
guardo as lembranças empurradas
de tudo aquilo que obrigaram-me a viver

Não sei o que é sucesso,
Nem o que é dinheiro, ou política,
Não sei o que é ser feliz, nem quero
Não sei o que é amor e nem acredito (mais)

Não sei mais nada, mas vivo.
Mesmo morrendo todos os dias,
Mesmo perdendo (mais) o controle,
Mesmo...

Todos os dias perco um pedaço
disso que chamam coração
Ele se perde por entre a destruição
Poluição, corrupção, enganação,
...Mundo!

Todos os dias penso em começar a viver,
mas acabo esperando a morte me acabar.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Palavra mal calada

Palavra desgasta(da) minha pele
Voou e nem sequer deixou
O débil toque, acostumado
D'amor, da dor do peito.

Mandou um beijo e s'entregou
Ao tédio, ao ébrio, o cego.
Desusada, descuidada, palavra    
Que o silêncio enforcou e (a)pagou.

E riscou no frio da vida
No fim da ponte amarga
Gosto vazio da palavra seca
Engasgada no (seu) último passo

Passos que ainda soam apressados
Despregados do apreço inútil
Inválida saudade, interrompida,
S'esvaiu no ousar da ponte.

Palavra desgraça(da) minha dor
Perdida, imunda no mundo.
Infinito pesar do amar
Acabou-se num sono profundo.

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

.

Eu, antes, era pedra.
Amei.
Virei pássaro.
Voei.
Depois, era sol
Me queimei
Era cinza

Eu era vento
Fugia.
Era chuva e
Passava.
Voltava.
E era (só) frio.

Eu era o silêncio
Confusão
Solidão
Era a busca frustrada
Perdição.
Caminho sem volta.

Eterna mudança.
Esperança?
Conflito
Aflito.
Era tudo sonho

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Passagem

Os dias tem de serem iguais
Assim como as pessoas que passam
E você não vê
Assim como aqueles olhares
que você não vê.
Aqueles sorrisos
que você finge
e não vê.

Os dias são sempre os mesmos
Estão acostumados a
Aquele velho ir e vir
Velho hábito
que você já não espera mais nada.
Aquela vida que passa
e você não vê.

E você não (me) vê mais
Nada.
E você (me) perde.
Eu passei...
E você me deixou passar.
(por que você me deixou passar?)

Eu já não sou mais.
Eu fui, sem (te) esperar.
Fugi dos meus dias que
não são mais tão iguais.
Fugi, fugi da vida.
E fugi de você
que não (me) deixou ficar.

terça-feira, 22 de julho de 2014

Verso da folha

Atrás, outro poema confuso
Palavras que desconfio que sejam minhas
A letra parece ser a mesma
E percebo que meus sentimentos são como esses anos
que esqueço ter vivido
Mas minhas olheiras me provam que faltam-me noites bem dormidas
Sobram-me insônias como se eu tivesse mesmo uma vida para cuidar

Talvez eu tenha me esforçado
Tendo noites em claro, em silêncio, em vão...
Tentando esquecer, tentando saber, ou só tentando sonhar...

É sem saber quanto tempo passou
Se alguma coisa mesmo (não) mudou
Que me encontro de novo me perdendo em palavras vazias
Agora, mais vazias do que já ousaram ser
Agora, com a sensação de ter perdido algo
(sem saber talvez o que possa ser)
Aceitando que o vazio preencha qualquer sinal de movimento

Agora, admitindo ser inconstante
e mais errada do que eu achava que seria
mais covarde do que eu sequer pensaria que fosse
Sem a certeza de partir outra vez
Ou ficar aqui de uma vez.

Sem forças, agora, para esquecer a vontade de fugir
Ou conter o desejo de gritar
(Será que eu deveria gritar?)
Ah, eu não quero, eu nem sei
Eu nem sei mais pensar
Talvez eu só deveria
Esperar a canção acabar...

domingo, 4 de maio de 2014

Eu sei, esse vento e esse lugar
Não são mais meus.
Estou aqui, distante.
Estou aqui, tentando estar.
Mas é um lugar que não posso mais chegar

Esse vento e esse lugar,
E a tua lembrança
Que já não sai de mim
Eu fujo tentando estar
Em qualquer lugar que eu não possa lembrar.

Mas essas lembranças
Esse tempo
E essa vida perdida
Fazem-me querer gritar,
um grito mudo.

E esse vento e esse lugar
Essas lembranças e eu...
E qualquer coisa fora do lugar
Qualquer bebida escondida embaixo da cama
Qualquer lágrima presa no aperto do peito
Eu, aqui, esse vento...
Nesse lugar.

terça-feira, 11 de março de 2014

Cotidiano

Depois de uma noite, bem ou mal dormida...
Depois de acordar e logo sentir o peso do dia,
de tirar disposição para levantar
(não sei de onde, talvez do hábito).

Depois de pegar o carro ou o ônibus,
andar na chuva ou no sol,
ter tomado um café bom ou ruim,
ter visto pessoas agradáveis ou desagradáveis...

Com os velhos, ou os novos problemas na cabeça...
Com medo da prova de amanhã,
com medo da filha internada,
com saudade dos pais,
com a ansiedade da nova viagem,
com as lembranças da noite perfeita...

Eu não sei como você está, nem o que você pensa.
Eu não tenho tempo para isso e nem me interessa.
Eu já te conheço o suficiente.
E eu não espero nada de você.

Ah não ser seu olhar, talvez seu sorriso
(que se eu soubesse como despertá-lo...
eu certamente o faria)
Eu só espero você passar
E ao te ver passar ninguém mais te deseja um belo dia do que eu.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Metrópole

A altura dos prédios rouba minha visão
Os carros todos me prendem
E eu não me mexo, nem me enxergo
Quem sou eu aqui?

Que lugar é esse, cheio de fumaça
De pessoas e movimentos
De passos que eu não consigo acompanhar
De céu sem cores e árvores perdidas, esquecidas

Que lugar é esse, de tanto excesso
Cheio de olhares atentos e cansados
Olhares que não correspondem sorrisos
E onde está o sorriso?

Que pessoas são essas que eu nunca vi
Que vivem para o trabalho
Que correm para não perder o ônibus
Correm para não perder tempo
Correm para não perder dinheiro
Correm para (não) perder a vida

Será que alguém consegue me ver aqui?
Não, não há tempo para isso.
Ah, eu preciso ir embora
Antes que eu precise correr para viver

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Mais uma vez

De novo te encontro e te quero
De novo te espero
Meu coração, de novo, pensa em viver
Um novo engano, de novo

De novo perco minhas noites de sono
Passo os dias sonhando,
o  esquecer do mundo
De novo esqueço de mim

De novo, um novo beijo seu

Um novo amor, de novo
Um sonho novo
Um beijo novo, de novo

Eu, de novo,
Nova perdição, nova paixão
Um novo medo, uma nova ilusão
De novo, um novo novo.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Existência

Penso que existo
E a cabeça dói, a alma pesa

Mandaram-me viver
E eu não soube recusar

Agora já sou eu
Posso ser um outro?
Tenho a mim
Mas a mim não desejo

Vivo assim, sendo.
Não sei não ser
Ainda que eu queira
Querer saber não ser

A vida que deram-me
Não soube aceitar
Vivo assim, sem a vida
Que todos me esperaram acreditar

domingo, 5 de janeiro de 2014

O papel ainda em branco
Vazio como minha alma
Tenta, em vão,
dizer o que eu não digo

O silêncio do violão encostado
Triste como a vida
Tenta, em vão,
Sentir o que eu não sinto

E o tempo vai passando
Enquanto eu vou (não) vivendo
Só sigo me perdendo
Nos meus próprios passos.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Talvez nada seja mesmo real
Mas que sei eu mesmo,
Senão o que penso que seja
O mundo que acho que é?

Se meu mundo for seus olhos
E que eu viva só para vê-los brilhar
Será que meu mundo faria diferença
para o mundo?

Se meu mundo for as ondas do mar
E que eu viva só para senti-las me levar
Será que meu mundo faria diferença
para o mundo?

Se meu mundo for só canções,
cores e sensações.
...E então, eu? O que sou?

Se nem sei quem sou
onde estou, nem por que
nem por nada.
Será que eu faria diferença para o mundo?