sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Estação Paulista, 18 de Outubro de 2013

Eu a vi, a alguns passos de distância, com uma menina e logo fui ajudar. Não só porque era o meu trabalho, mas naquela ocasião, qualquer cidadão ajudaria. Perguntei qual o destino e a menina me respondeu: Av. Angélica. Eu a vi, com a coluna inclinada para a frente e uma bengala, andando tão devagar... Eu pensei na distância que ela tinha percorrido até ali, pensei até onde ela queria chegar... “Ela não vai conseguir”.  Ofereceram-lhe cadeira de rodas, mas ela recusou. E agora éramos só nós duas naquela caminhada. Ela logo agarrou minha mão e fomos andando, devagar... Não sei dizer quantos anos aparentava ter, sei que seus olhos eram castanhos esverdeados e tinham certo brilho, talvez porque estivessem um pouco lacrimejados. Seu sorriso era calmo e sincero. Veio me dizendo que aquela estação era enorme, com um tom de surpresa, disse que no tempo dela não era assim... Eu concordava e sorria... Concentrada em seus passos, curtos, e que às vezes se descoordenavam. Eu sabia que todos que nos viam passar na estação me olhavam com aquele olhar de pena misturado com um “que bonitinho ela ajudando a senhora”, mas daquela vez, aquilo não estava me incomodando. Ela me perguntou: “Sabe quantos anos eu tenho?” Eu disse que não... e ela disse: “Tenho 91 mas com cabeça de 42”. E ela parecia mesmo ser muito esperta para aquela idade. Minha avó tem 82 e desconfio que ela já não saiba quem sou eu. Não sei dizer o que ela tinha de especial, mas tinha... Ela me disse que era andarilha quando jovem (me identifiquei um pouco), contou que pegava três conduções para ir ao trabalho... E eu ia ouvindo... E às vezes me perdia no que ela falava, me perdia porque estava sentindo algo estranho, mas bom... Pegamos o elevador (cheio) e ela encostou a cabeça no meu peito. Perguntei se estava tudo bem, se ela queria se sentar ou tomar uma água. E ela sorrindo disse que não e continuamos andando devagar e ela falando, falando... Ela, às vezes ficava sem fôlego, mas continuava falando. Eu insistia em perguntar se estava tudo bem e ela só dizia que estava um pouco cansada. Me contou que estava indo tirar os pinos da coluna porque ela tinha caído sentada... Me disse isso rindo... E eu, às vezes olhava aqueles olhos alegres que sorriam. Eu não sabia direito o que estava acontecendo, mas logo chegaríamos na saída da estação. Perguntei se ela sabia onde era a avenida, ela me explicou o lugar exato onde era e soltei um comentário idiota: “tá sabendo mais que eu”. E ela sorriu de novo... Aquele sorriso que já estava se tornando o único, o mais sincero e calmo que eu já tinha visto. Antes de me despedir, ela que tantas vezes segurava a minha mão com mais ou menos força, aquela hora era minha vez de apertá-la e com a minha força. Perguntei se ela queria que eu pedisse para alguém que estivesse passando na rua para acompanha-la... Ela disse que minha ajuda já estava de bom tamanho. Perguntei seu nome. Ela disse: Elza. E o seu? Disse o meu e ela só entendeu uma parte, mas não corrigi. Eu, então apertei sua mão, sem saber muito o que estava fazendo, e disse: Elza... Nunca vou te esquecer. E aqueles olhos que já eram lacrimejados e brilhantes, brilharam mais ainda e se encheram de lágrimas (que não caíram...) e eu disse: “quem me dera um dia ser forte igual a você”. Aqueles olhos brilhantes sorriram... Nos abraçamos, dei meia volta e voltei... Ainda com os passos dela... Continuei um pouco a olhá-la, ainda sem saber o que estava acontecendo... Eu, que tantas e tantas vezes pensava em falar, mas na hora nunca tinha coragem. Naquela hora tinha sido tão fácil, talvez eu nem tenha pensado... E eu, voltando, tentando entender uma coisa que eu não sabia o que era... Eu, voltando e me sentindo emocionada, talvez... Eu voltando, deixei escorrer as lágrimas que aqueles olhos brilhantes e lacrimejados não deixaram. Não sei porque não vou esquecê-la, também não sei se aguentaria chegar aos 91 anos com aquela alegria calma... Não sei nem ao certo o que aconteceu, o que eu senti... Sei que minha única vontade depois de conhece-la, por aqueles poucos minutos, era de escrever...

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