segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Tediomingo

Tinha cheiro de domingo. Era um dia pesado, um dia lento. Era o domingo. Porque domingo era sempre igual. Era sempre um nada. Era sempre um dia que podia ser descartado. Eu lembro bem das minhas caminhadas pela casa a procura de coisas para fazer. Lembro bem daquele silêncio sufocante. E da minha energia reprimida. Lembro bem das duas portas dos quartos fechadas. Lembro de abri-las e ficar a espera de um dos dois amores da minha vida acordarem, mas nenhum o fazia. Então, eu olhava elas dormirem. Eu contava os segundos das respirações. Eu procurava as marcas da pele nos rostos. E pensava sobre o tempo. Pensava sobre a vida. Pensava em como elas já tinham vivido e eu ainda não. Pensava em como era ruim ter um dia pra viver e não ser vivido. E pensava em dormir em um dia como aquele. Mas dormir pra que exatamente? Elas provavelmente estavam cansadas... Eu ainda tinha energia, apesar de tudo. Só não queria gastá-la. Mas eu ficava a olhar. E a deixar o silêncio invadir meu corpo e encontrar meu vazio. E isso fazia com que minha mente fosse pra um lugar distante dali. Distante do vazio e do silêncio. E eu começava a querer saber dos sonhos delas. Se é que ainda sonhavam. Era uma curiosidade inútil. Mas que me deixava esquecer de que eu ainda não estava fazendo nada. Aí eu cansava. Eu cansava do silêncio e dos rostos dela. Eu cansava do quarto e ia lá pra fora. Eu ia ver aquele céu tímido e azul. Um céu de um dia de domingo. Nada animador. E era lá que eu passava mais tempo, fazendo não sei bem o que. Vivendo, talvez... Ou morrendo.

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